Tenho um saco onde guardo as saudades. O meu pedaço de paraíso. A ideia que crio do céu és tu que me a dás, e eu guardo-a, guardo-a no meu saco. Um dia talvez te encontre. Um dia nunca mais nos vimos. Um dia morremos todos e conhecemos o nosso criador. O Diabo. Merda. Pessoas de merda. Estou rodeado de incompetência. Devia-se matar todos os velhos, só assim é que a sociedade pode progredir. Só assim é que se mudam mentalidades. Através da morte descobrimos o significado da vida. Eu vou morrer jovem. Eu vim ao mundo com uma missão. Destruir as pessoas para estabilizar o mundo. È a ordem natural das coisas. Amamos e somos amados. Não conheço a tua religião. És tu. Vivo sob pressão. Não a posso desiludir, se erro, desiludo-me e a ela. Não me preocupo comigo. Preocupo-me com ela. Um dia posso-a perder e depois? Não cries a ilusão. Eu vejo as coisas assim. Não vale a pena discutir. Essa é a minha verdade. Feriu-me, ele chamar-me de intelectual. Eu não sou um intelectual pois não? Eu penso muito, fodo-me todo a pensar. É a imagem que passava. És intelectual. Ès arrogante. As coisas tornaram-se agrestes para o meu lado. Sou um leitor verrinoso. Ninguém me lê a mim. Sei das tuas intenções. Vamo-nos deixar de brincadeiras. Queres brincar comigo? Qual é a tua realidade? Tenho 4 amigos com um Citroen. Pegamos nele e levamo-lo para o meio dos bosques. Deixa lá o velhote. Estás disposto a morrer por este país? Eu não. Sim, desde que o país também esteja pronto a reconhecer a razão por que morro.
Deixa-te de merdas. Nunca me tinhas dito que o teu pai tinha morrido. Morreu de velhice crónica. Ès jovem, por isso é que acreditas que podes fazer a diferença. Isso a mim já não. Mas também me lembro quando tinha vontade de gritar e ir para o meio das manifestações populares. Não sou elitista, só não acredito. Isto um dia vai tudo abaixo. Nada dura para sempre. Tu também não. Queres-me matar velho amigo? Porquê? Dá cá um abraço. Eu sou teu amigo, não me faças mal. O que eu sinto por ti é amor. É uma coisa bonita, sabes disso? È uma amizade que não tem fim. Fiquei feliz por estar ali no meio, a discutir e a profanar o hino nacional. Os velhotes já não me podiam ver mais á frente. Por isso é que eu me escondia atrás deles com um megafone. Andam a circular cartazes da polícia. È a ti que eles querem. Eles querem todas as pessoas, na palminha da mão. Por isso é que te dão dinheiro. Se não precisasses de dinheiro, não precisavas de um Governo ou de um Estado. Eles não tinham utilidade nenhuma. É como os velhos. Não fazem nada. Já fizeram. Não deviam ter feito. Deixam-nos com uma herança pesada. A de não haver dinheiro. Mas para quê esta conversa? Vai levar a algum sítio. Todos queremos tudo, nunca o vamos ter. Temos sempre alguma coisa, nunca temos nada. È tudo muito relativo. Tudo é relativo. Então não vale a pena discutir. Não nos leva a lado nenhum.
Ele vê isto tudo. Ele sabe. Por isso é que ele já não se importa, já não se preocupa. Tem medo. Eu também e por isso é que ando sempre com uma arma carregada. Não sou capaz de me matar. Sou demasiado egocêntrico para me matar. Tenho homicídio escrito no olhar. Não tenho suicídio. Isso é noutra loja. Eu tenho uma cena que é: Eu sentado num sofá vermelho, a ver a minha vida passar-me diante dos olhos. Eu a foder-me todo. Achas que me levanto para alterar isso? Não. Deixa estar, ninguém repara. Percebes?
Eu fiquei lá. A cuidar do cão. Somos todos cães. Ninguém olhava para nós. Eu fiquei lá. E fizeste o que? Não o deixaste ficar lá também. Sim, mas eu só deixei lá ficar um cão. Vocês deixaram lá ficar dois. Já me viste bem isto. Ouve lá, quem és tu? Sou a tua consciência perturbada. Eu não tenho outra. Eu sei, Eu sei, meu velho jovem. Sabes que mais? Quero silencio. Quero paz. Quero liberdade. Choro por causa disso. Sei que nunca a vou ter. Por isso é que não me calo. A tragédia da minha vida, sou eu que a escrevo. A palavra só existe escrita. Quando falas é só ruído. PIM PAPTI UUU KAHALI MURTANI KAROKI. Percebes? Não, mas são as minhas palavras. Isso é só som. Exacto. Não existem palavras. O que vai desejar? Alegria. Deixe-me perguntar ao meu chefe se temos. Não. Desculpe. Mas se quiser um pastel de nata. Eles hoje estão bons. Já que não tem alegria, mais vale matar a fome. Não tens saudade? Tenho muita, mas guardo-a neste saco. E cabe lá toda? Tento abstrair-me disso. Quando for velho e me falhar a memória posso sempre abrir o saco. E assim matas as saudades. Não as mato, elas fogem. Fogem para onde? Para a eternidade dos momentos passados. Foi só um segundo. Devia-se queimar tudo. Instalar a anarquia. Achas que as pessoas deixavam? Se queimares o medo com o resto. Talvez. Não. Sim. Vamos embora. Para onde? Para um sitio qualquer, para uma casa qualquer, para uma pessoa qualquer, Para uma morte certa. Eu não morro. Desapareço. Concretizo a maior fuga do mundo. A fuga ao Diabo e a Deus. Adeus que me vou embora. Escondes-te aonde? Para se eu um dia te quiser encontrar. Saber onde estás. Não te posso dizer. Mas deixo-te a saudade no teu saco. Talvez vá para um cemitério ou para Cuba. O que é que achas? Não vai dar ao mesmo? O silêncio é igual. Um dia escreves-me uma carta. A dizer o que? Que a minha saudade fugiu. Se ela fugir, não me lembro mais de ti. Escreves a carta sem destinatário. E mandas-me o velho trapo verde e vermelho. Sou um exilado. Não sei se a morte prematura é um exílio. È, é por que eu quero que seja.
Isso é relativo. Tudo é relativo. Então para que é que estamos a discutir. Tu segues o teu caminho e eu sigo o meu. Nunca se passou nada. È como “putos a roubar maçãs”. Inconsequentes conversas sem remetente. Não prestas para nada. Percebes? Gostava de te roubar essa paz que tens. Vais preso por isso. Ninguém me encontra. Não há jurisdição no Além. Boa Viagem. Porquê? Por nada. Porque me enervas e quero te ver pelas costas. Passo aqui amanha de manhã. Não vou cá estar. Mesmo que estivesses não me vias. Já tens a saudade nesse teu saco. Isso é relativo. Tudo é. Por isso é que esta conversa não vale de nada.
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todas as conversas valessem tanto como essa conversa
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